Como se preparar para voltar ao convívio social

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Com a chegada da pandemia da COVID-19, a sociedade precisou se adaptar a um novo estilo de vida que perdurou por mais de um ano e meio. Porém, o isolamento social, que foi um desafio nos primeiros meses, hoje, com o avanço da vacinação, as pessoas se encontram com um novo confronto pessoal: “como voltar a me relacionar em sociedade novamente?”.

Para os extrovertidos, muitos já enxergam essa situação como um desafio a ser cumprido, por mais que a alegria da vacinação tome conta dos sentimentos, enquanto os mais tímidos podem sentir ainda mais ansiedade social, ao mesmo passo em que lutam consigo mesmos para planejar a volta à sala de aula e aos escritórios.

Assim, convidamos a psicóloga Vitória Marioto (@mariotovitoriapsi) para tirar algumas dúvidas sobre o assunto, bem como aconselhar a melhor forma de encarar o tão sonhado fim do isolamento social.

Saiba os maiores desafios da volta ao convívio social

Ainda que tão esperado, a volta ao convívio social é um momento que apresenta alguns receios, então perguntamos à Vitória quais são os maiores deles, e ela responde: “é difícil prever esses desafios, já que as pessoas estão vivendo momentos muito particulares dentro desse período e, por isso, as reações e expectativas tendem a ser diferentes, também.”

Mas, partindo de pensamentos comuns, ela nota que algumas pessoas se preocupam com a readaptação do estilo de vida. Por exemplo, o conforto de casa, o ganho de tempo encontrado no home office, a qualidade dos dias quando se pode organizar a rotina, alimentação e etc., são benefícios (para alguns) que, na volta do trabalho presencial, serão perdidos e talvez mais “sacrificante” do que no passado.

Por outro lado, a psicóloga diz perceber que muitas pessoas estão aguardando pelo momento em que poderão dar continuidade às relações sociais de forma próxima, e esse retorno ao convívio também pode significar proteção à saúde e ao equilíbrio emocional.

Os receios mais comuns neste momento

De acordo com Vitória, é possível notar um aumento de pessoas com esse receio nas sessões de terapia, assim como uma dificuldade maior nas pessoas que sempre tiveram um perfil mais introspectivo ou até com histórico de transtorno ansioso ou de pânico, já que um cenário “normal” de vida social oferecia uma oportunidade de ir para fora, sem grandes restrições e, portanto, apresentarem ganhos na sociabilidade. 

“Com o tempo extenso de quarentena e isolamento, a possibilidade de regressão desses ganhos é muito maior (claro, em casos em que essa dificuldade causa prejuízos para o funcionamento da vida), provocando maiores desafios para comunicação, desconfortos e até as crises ansiosas”, comenta.

E, além dos sentimentos comuns para a maioria, algumas características como medo exagerado, dificuldade de comunicação, evitação de situações sociais e estado ansioso constante podem ter sido intensificadas em pessoas que já apresentavam traços de retraimento social e podem ter desenvolvido, ou tem chances de desenvolver, algum transtorno como a ansiedade social ou a fobia social. 

“Identificamos esses transtornos quando há uma dificuldade acentuada que gera enormes desconfortos e prejuízos concretos na vida dos sujeitos, precisando de tratamento e acompanhamento multiprofissional. Há quem sinta pouca ou mínima vontade de voltar ao convívio presencial, mas se isso não provoca limitações importantes no dia a dia, é muito provável que faça parte da sua readaptação às novas atividades”, comenta.

Então ela destaca que, na verdade, o que causa sofrimento por antecipação costuma estar muito mais ligado ao desconhecimento do “novo cenário” e as inseguranças do que tudo isso anda causando. “Tudo vai depender de como cada pessoa entrou e atravessou toda essa experiência de isolamento, se houveram perdas e quais foram, além do momento de vida que se encontra. Por isso, é difícil nomear os receios já que estamos falando de tantas possíveis realidades.”

Como identificar se essa ansiedade é saudável ou se é preciso buscar ajuda

Existe um tipo de ansiedade que constitui nossa maneira de lidar com os acontecimentos rotineiros e talvez cause algum desconforto, explica Vitória, mas nada que impeça ou prejudique a realização do que precisa ser feito. “Nesses casos, a volta ao convívio social pode provocar pensamentos incômodos ou antecipação de possíveis situações, mas que podem servir, inclusive, como prevenção e reforço dos cuidados ao estar em contato com as pessoas.”

Mas ela acrescenta que, quando essas preocupações trazem sensações físicas, são constantes ou te impedem de ir e vir, por exemplo, talvez os receios estejam partindo de uma visão irreal das coisas: “medo excessivo, suposições trágicas e coisas do tipo podem indicar uma preocupação exagerada e porventura um transtorno que precise de tratamento.” Assim, Vitória recomenda que uma avaliação profissional é necessária para entender a dimensão e o melhor tratamento para o sofrimento.

Para os mais tímidos, como lidar com essa situação?

Segundo a psicóloga, o isolamento social é uma questão que pode ter sido reconfortante para muitos durante o tempo de isolamento e, agora, provavelmente, se tornou um fator de muito desconforto. “Para nós, profissionais, esse tema foi um motivo de preocupação com os casos em que as conquistas e avanços eram feitos através da vida fora de casa: encontros, caminhos, comunicação, superação de inseguranças no contato com as pessoas, etc.”

E ela completa: “é claro que esse longo período de reclusão proporcionou um relaxamento muito maior para as pessoas que precisam se esforçar para manter o mínimo de convívio, portanto, esses ‘músculos sociais’ precisarão retornar ao movimento da forma e no tempo que conseguirem – sempre levando em consideração os tantos meses atípicos que atravessaram nossas vidas – podendo precisar de um apoio profissional caso o retorno ofereça prejuízos às atividades básicas e essenciais do dia a dia. É importante ser respeitado, mas é importante que a qualidade de vida esteja presente.”

Mas será possível mesmo que as pessoas percam a habilidade de se comunicar pessoalmente?

É comum, na internet e nas redes sociais, encontrar usuários dizendo que perderam suas habilidade de conviver com outras pessoas, então perguntamos para Vitória se isso é mesmo algo possível de acontecer, e ela garante: “vejo muitas pessoas com esse receio e talvez já com essa dificuldade. A boa notícia, é que somos seres adaptáveis!

“Soa estranho para algumas pessoas lembrarem como viviam seus dias pré-pandêmicos e jamais imaginariam que a quarentena duraria muito mais de um ano, por exemplo. Mesmo com as dificuldades, em alguns níveis nós precisamos nos adaptar e usar nossas ferramentas internas para a sobrevivência e atravessar as adversidades, às vezes com mais dificuldade que os outros, talvez com apoio psicológico, mas com a certeza de que somos capazes de nos (re)adaptarmos.”

Então ela deixa uma dica que pode ajudar a muitos, que é buscar ter paciência consigo e experimentar essa retomada com pessoas próximas, aos poucos, o que pode ser um caminho mais confortável para pegar o ritmo da socialização.

Cuide e preserve sempre a sua saúde mental

Se perceber, tentar entender seus limites num momento de novas mudanças e gradativamente ir reconhecendo a realidade como ela é, é uma ótima maneira de cuidar da saúde mental nesse momento, segundo a psicóloga. Assim, ela destaca que, com protocolos funcionando, a proteção da vacina e, principalmente, a percepção dos verdadeiros riscos e não das fantasias do nosso desconhecido (ele tende a ser muito maior e muito pior), já é possível preservar a saúde mental.

“Não ignorar potenciais causadores de sofrimento também é um cuidado importante. Se respeite e tente, dentro do possível, buscar formas de encontrar um conforto mínimo para se restabelecer de acordo com as demandas”, aconselha a especialista. 

E ela deixa uma dica final, sobre como a psicoterapia serve como um suporte importante para fazer essa travessia da forma menos desconfortável possível. “Em processo psicoterápico temos chance de nos aproximarmos do que realmente sentimos e condições de nomearmos os sentimentos. Reconhecendo o que está presente, somos capazes de pensar consciente e intencionalmente, avaliando o que realmente faz sentido. Dessa forma, as coisas tendem a ser muito mais leves, organizadas e reais, diminuindo a angústia de ser tomado por ansiedades, receios e tensões que antes surgiam a partir do desconhecido”, completa

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